domingo, 16 de agosto de 2009

Especialistas discutem as características das comunidades virtuais

As comunidades virtuais se tornaram um fenômeno no Brasil. De acordo com o último estudo do Ibope/NetRatings, divulgado no final de outubro de 2007, 90% dos mais de 39 milhões de internautas brasileiros, considerando residências, trabalho e lan houses, participam de alguma comunidade na web.
Segundo a mesma pesquisa, serviços como blogs, fotologs, MSN e comunidades virtuais são os grandes responsáveis pelas mais de 23 horas mensais que os brasileiros navegam na rede. A Internet é vasta em comunidades virtuais, os mais variados assuntos e idéias podem ser encontrados, debatidos e compartilhados entre internautas com gostos em comum.
Ambientes virtuais e suas criações - No artigo "Building online communities", o autor, Doug Sheppard, editor técnico da O'Reilly Network enumera algumas questões para a criação de comunidades virtuais, coisas como porque a comunidade deve existir, quais os benefícios que os participantes terão, por que alguém se interessaria por uma iniciativa assim, entre outras perguntas que devem ser pensadas para o sucesso de uma comunidade.
A aprendizagem é uma das vertentes das comunidades virtuais. Baseado em programas desenvolvidos por universidades nacionais e internacionais, como UFRGS, Unicamp, Harvard, Stanford, entre outras, Brasilina Passarelli, investigadora do Núcleo Escola do Futuro, da USP, e docente do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA-USP, criou um programa de comunidades virtuais de aprendizagem.
Os quatro ambientes desenvolvidos (jornal interativo, educação à distância, projetos e pesquisas) envolveram mais de 2.500 escolas públicas e 6 mil alunos. "Eu tentei ter o olhar de um antropólogo analisando as comunidades. Fiz pesquisas para encontrar o perfil dos usuários e atores das comunidades virtuais e vi que todos os participantes estavam bem motivados e abertos para novas idéias", explicou Brasilina, no lançamento do livro Interfaces Digitais na Educação: alucinações consentidas, baseado na criação dos projetos. A autora desenvolve mais três pesquisas de mestrado na área de comunidades virtuais.
O impacto das comunidades virtuais se reflete também no mercado empresarial. A Papagallis, comunidade dirigida pelo jornalista Luiz Algarra, desenvolve serviços de world café, círculos reflexivos, desconferência e orientação para implementação de ambientes virtuais para redes sociais de conversação, além de manter um wiki sobre aprendizado informal. A empresa elabora projetos para comunidades, empresas e organizações como Natura, DW Consulting/Aliz, Academia Bio Ritmo, Ministério da Cultura, entre outras.
"A Papagallis não surgiu a partir de uma percepção de mercado, nasceu pela espontaneidade de alguns de nós que buscavam coerência entre nossa vida pessoal e atuação profissional. Então nossas experiências pessoais anteriores se combinaram, tecnologia, redes sociais, ativação de grupos e comunicação democrática se encontraram num espaço de ação a que chamamos Papagallis", explica o diretor.
Ferramentas de relacionamento - Na web há várias ferramentas de relacionamento, como Ning, Elgg, Orkut, Facebook e Icox, que possibilitam a criação e participação de comunidades virtuais. Um exemplo é o Linkedin, que aproxima profissionais do mesmo ramo para discussões e troca de conhecimentos.
O jornal francês Le Monde mapeou as principais redes sociais no mundo. My Space lidera na América do Norte com 223 milhões de horas por mês, seguido pela América do Sul, com 156 milhões de horas no Orkut, Europa com 65 milhões no Bebo, Ásia-Pacífico, com 90 milhões no Friendster e África com 16 milhões de horas por mês.
Os encontros fora o ambiente on-line também são uns dos recursos de interação utilizados para aproximar os integrantes das comunidades, na troca e discussão de idéias.
"Formar uma comunidade é só o primeiro passo, o segundo é gerenciar. Se não houver um bom gerenciamento não há interatividade, nem sentimento de pertencimento", explica Marcos Palácios, professor da Universidade Federal da Bahia e coordenador do grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line da Facom.
Comunidades ou apenas agregações eletrônicas? - Alguns especialistas afirmam que nem todos os grupos de relacionamento podem ser chamados de comunidades, já que em muitos casos, os participantes desenvolvem poucos vínculos entre si. "Na web existem comunidades e agregações. A diferença das comunidades é que há interatividade e cooperação. Mas uma agregação também pode virar uma comunidade no decorrer do tempo", analisa a jornalista, professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pelotas, Raquel Recuero.
Palácios acredita que há muita diversificação nos ambientes virtuais. "O conceito de comunidade virtual se expandiu até agregar coisas muito diversificadas", afirma. Para ele é fundamental o sentimento de pertencimento à comunidade. "É necessário que as pessoas tenham esse sentimento, independente de participação ativa. O fato das pessoas não participarem tão ativamente não significa que não tenham interesse".
"Gente espalhada pelo mundo se encontra, troca uma fala, compartilha um código e se reconhece em diálogos não-organizados. Será isto uma comunidade? Depende de quais critérios são usados para avaliar isto. Então podemos refletir sobre nossos critérios e não apenas invalidar algo que está acontecendo e que independe de nossa vontade", analisa Luiz Algarra.
Para Pedro Dória, colunista do caderno Link do O Estado de S. Paulo, onde há conversação contínua e interatividade, como listas de discussão, blogs, e até mesmo o Second Life, existem formas de comunidade. "Há muitos modismos na Internet, antes se dizia que os textos para web tinham que ser curtos, agora se diz que para ser considerada uma comunidade deve haver colaboração. Isso depende muito", afirma Dória.


Marcos Palácios lista os elementos que caracterizam uma comunidade virtual:

1- Sentimento de pertencimento
2- Territorialidade
3- Permanência
4- Ligação entre o sentimento de comunidade
5- Caráter corporativo e a emergência de um projeto comum
6- Existência de formas próprias de comunicação

Fonte:http://www.comunique-se.com.br
Disponível em: 16/08/2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário